ERY CLAVER “CONQUISTA” FESTIVAL INTERNACIONAL DE CURTA-METRAGEM

“O feedback do público foi surpreendente, elogiaram muito não só a qualidade visual mas também a forma narrativa do filme.”

Ofilme “Lúcia no Céu com Semáforos”, de Ery Claver e Gretel Marin foi exibido durante o Festival Internacional de curta-metragem Clermont-Ferrand 2019, em Auvergne, França.

Lúcia, o ser-objecto retratado, a mulher sem voz, de olhar distante que suprime gritos e desabafos. Silenciada pela sociedade sexista que a constrói sem direito a ser, pensar ou opinar. A dupla captou o relato mudo de uma jovem “desapaixonada”.

© ERY CLAVER

O trabalho de Ery Claver (da produtora Geração 80) e Gretel Marin foi exibido na secção “Perspectivas Africanas”, todos os dias (de 1 a 9 de Fevereiro) enquanto decorreu o festival.

Clermont-Ferrand existe há 40 anos e a cada edição, reúne um número significativo de profissionais do cinema, agências e organizações internacionais focados em curta-metragem e, conta ainda, com uma vasta audiência de entusiastas da arte cinematográfica.

Após o regresso a Angola e com as “emoções ao rubro”, fomos falar com o cineasta Ery Claver para saber afinal como correu a sua estadia, num dos palcos mais importantes da cena cinematográfica internacional.


I.A – Qual foi o feedback da indústria cinematográfica internacional? E do público?

E.C – O convite feito pelo Clermont festival foi uma enorme surpresa, já conhecia o festival pelo seu protagonismo mundial no que se refere às curtas-metragens, e porque nem sequer submetemos o filme, eles é que encontraram-me! O que constatei no evento foi justamente isso, um interesse muito grande em produções vindas de África, não é comum a presença africana nestes eventos, de Angola foi a primeira participação, com excepção claro dos países francófonos, o que me permitiu durante as conferências em que participei, para além de exibir o meu filme, poder fazer um balanço do que se produz cá no país. 
O feedback do público foi surpreendente, elogiaram muito não só a qualidade visual mas também a forma narrativa do filme.

© Gretel Marin

“O que constatei no evento foi justamente isso, um interesse muito grande em produções vindas de África, não é comum a presença africana nestes eventos, de Angola foi a primeira participação. Quando escrevi a personagem “Lúcia”, a partir de uma balada poética, procurei incluir dentro dela inúmeros relatos verídicos, até notícias dos media, de mulheres que de diferentes formas experimentaram abusos domésticos e desvalorização social.”

I.A –  Onde é que o público angolano pode ver a curta-metragem completa?

E.C –  O filme estreou cá na 4ª edição da exposição colectiva Fuckin’ Globo, em Fevereiro do ano passado, e foi também incluído, em Novembro na exposição “Bergman – Através dos olhos angolanos”, em homenagem ao mestre sueco. Desde então, apenas tenho feito apresentações em festivais internacionais, destacando o VIDEOEX, em Zurique.

I.A – A história retrata uma jovem angolana “desapaixonada”. Podemos considerar que é uma “chamada de atenção” à situação social de muitas jovens? O que está por trás?

E.C – O termo “desapaixonada”, embora faça sentido, parece-me redutor. Quando escrevi a personagem “Lúcia”, a partir de uma balada poética, procurei incluir dentro dela inúmeros relatos verídicos, até notícias dos media, de mulheres que de diferentes formas experimentaram abusos domésticos e desvalorização social. Por isso, vemos no filme, uma mulher ambígua, entre o silêncio e a raiva interior, representada em cenas fragmentadas e apoiadas por textos que tentam adivinhar o seu estado de espírito.
Sem esquecer de mencionar a Maura Ribeiro, que deu vida à Lúcia e que actuou de forma brilhante, mesmo sendo a sua primeira experiência. À Gretel que colaborou comigo na realização, ao João Ana e ao Toy Boy, parceiros habituais nos meus filmes.

FOTOGRAFIA DE RUI SÉRGIO AFONSO (GERAÇÃO 80)
FOTOGRAFIA DE RUI SÉRGIO AFONSO (GERAÇÃO 80)
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