ENERGIA VERDE EM ANGOLA

Energia Verde em Angola

ENERGIA VERDE EM ANGOLA

O desenvolvimento de Angola foi marcado pelas três décadas de guerra civil e como consequência, infraestruturas foram destruídas e populações foram desalojadas. O sector enérgico é um factor importante para qualquer país, desenvolver e criar fontes de energia sustentáveis pode não somente contribuir para a luta contra o aquecimento global, mas também melhorar os meios de subsistência dos cidadãos e promover o desenvolvimento econômico do país tal como ilustra a figura abaixo. energia verde em angola


ENERGIA VERDE EM ANGOLA
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Segundo o relatório da ONU, a população mundial deve chegar a 9.2 bilhões de pessoas até 2050[1] e com isso a demanda de consumo de energia cresce exponencialmente. A figura actual do mercado enérgico não suprirá a escala no ritmo que precisamos para balançar o consumo enérgico sem danificar a camada de ozono. Usinas a carvão e nucleares têm maior probabilidade de fecharem e a volubilidade do preço dos combustíveis fósseis será inevitável, precisamos de maior investimento no sistema elétrico para um futuro próspero. A diversificação das fontes de geração de energia é indispensável para diminuição da necessidade de consumo de combustíveis fósseis através da inserção de energias renováveis no sistema eléctrico. energia verde em angola

A geração de energia a partir de uma fonte infinita é denominada como recurso de energia renovável. As energias renováveis são: energia geotérmica, a energia eólica, energia solar, a energia das marés, e a biomassa. Toda a energia renovável é derivada da energia da radiação do sol, com exceção das fontes geotérmicas e das marés. Em média, anualmente a radiação solar global em plano horizontal está compreendida entre 1.370 e 2.100 kWh/m²/ano.


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Energia solar é a energia oriunda do calor e da luz emitida pelo Sol. Seu aproveitamento pode ser feito através de usinas heliotérmicas e painéis fotovoltaicos. Em palavras simples, a energia é convertida através da captação do sol. A energia térmica e eléctrica são resultados da conversão da luz solar nas usinas heliotérmicas e painéis solar, respectivamente.

Energia fotovoltaica (PV) é a conversão direta da radiação solar em energia eléctrica através da composição de um semicondutor Si “silício” resultando em células fotovoltaicas. A corrente eléctrica nos painéis solares é gerada através da movimentação dos eléctrões do Si, que por sua vez é provocada pela luz solar na incidência sobre as células que são captadas por um campo eléctrico. A planta fotovoltaica é constituída por equipamentos eléctricos, módulos e painéis fotovoltaicos. Ela é flexível as alterações de radiações, mas é sensível aos efeitos de dispersão de nuvens, neblina e poeira. Esta tecnologia é a mais promissora e usada mundialmente, devido facilidade de instalação.

Vantagens e desvantagens da energia fotovoltaica

Apesar de ser um recurso renovável com características de geração limpa, ou seja, não apresenta perigo para o meio ambiente, a energia solar também apresenta algumas desvantagens como ilustra o quadro abaixo:

Vantagens Desvantagens
Fonte de energia inesgotável e renovável Requer um sistema eficiente de armazenamento
Não poluente Dependente às variações atmosféricas
Baixo custo de manutenção Preços elevados de aquisição e instalação
Promissão de painéis com alta eficiência Falta de produção em períodos noturnos
Mobilidade e acessibilidade fácil Requer inclinação precisa no local a instalar

Vantagens e desvantagens da energia solar fotovoltaica.


Por outro lado, aerogerador é a tecnologia usada para transformação do vento em energia eólica. As turbinas eólicas parecem simples, mas em aspectos de engenharia torna-a única e complexa devido alguns factores como por exemplo; aerogeradores têm de operar como uma central eléctrica autónoma e variações de vento durante o ano, o que gera incertezas sobre produção de energia e trabalho mecânico. A potência de saída de uma turbina varia com a velocidade do vento. Para analisar quanta energia a turbina produzirá, avalia-se as características da velocidade versus potência, sendo que a curva de potência depende da característica da turbina e é normalmente influenciada pela rotação das pás, eficiência do gerador, velocidade de corte e vento nominal. A tecnologia mais convencional para turbinas eólicas são as turbinas de três pás com velocidade variável contra o vento.

Vantagens e desvantagens da energia eólica
Vantagens Desvantagens
Fonte de energia inesgotável e renovável Requer grande ocupação de terra por causa do tamanho das turbinas
Alta eficiência Baixa produção em períodos noturnos
Redução da emissão de dióxido de carbono Impacto na fauna, poluição visual e sonora
Preços elevados de aquisição e instalação
Custos elevados de manutenção
Risco humano

Vantagens e desvantagens da energia eólica.


A energia eólica é indiscutivelmente uma energia cuja suas principais vantagens são a diminuição de emissão de CO2 e redução do uso de combustíveis fosseis, mas as desvantagens por ela apresentada ainda gera discussão sobre o seu impacto na biodiversidade.

O custo de instalação de tecnologias de energias renováveis é convencionalmente dividido em duas partes: custo de equilíbrio do sistema (BOS) e o custo do equipamento gerador de energia. Apesar dos custos, dois factores motivacionais pelos quais deve-se substituir os combustíveis fósseis for fontes limpas são:

  • A escassez de combustíveis fósseis é garantida, ao passo que fontes renováveis de energia são inesgotáveis.
  • Fontes renováveis de energia são consideradas limpas por não conterem impurezas de enxofre, ao contrário dos combustíveis fósseis que promovem a concentração de dióxido de carbono (CO2) contribuindo para o aquecimento global.
Cenário das energias renováveis em Angola

A cada década que passa, o estilo e padrão de vida dos angolanos tem aumentado e consequentemente o consumo anual de energia aumentou 15% em 2017, e se prevê um aumento de mais 12.5% até 2025 . Estudos revelam que nos próximos três anos a demanda atingirá um pico de 7.2 GW (quatro vezes maior que o cenário actual). De acordo com o Ministério de Energia e Água (MINEA), o país tem uma capacidade instalada de 5.01 GW, mas o objectivo é electrificar até 6.3 GW onde 12% correspondente a 750 MW para o gás natural, 24% correspondente a 1.5 GW para combustíveis fósseis e 64% correspondente a 4 GW para energia hidroeléctrica quando a central de gás natural do Soyo e a barragem hidroeléctrica de Laúca estiverem totalmente operacionais.

Sem sombras de dúvida, a energia hidroelectrica é actualmente a principal fonte de geração de energia no país para o sector público, sendo que em 2014 o MINEA reportou que o país tem 18 GW de capacidade de produção hidroeléctrica comparando com 16 GW de fotovoltaica e apenas 3.9 GW de eólica.  Entretanto, para as novas tecnologias de energias renováveis a energia solar tem ganho favoritismo por parte da comunidade local e internacional devido ao impacto positivo ao ecossistema, mudanças climáticas, fácil aquisição e instalação.

Existem vários tipos de painéis solares, mas 90% dos projectos utilizam o silício cristalino devido o seu custo e eficiência. A intensidade da radiação solar e temperatura de operação são os principais factores que influenciam a operação de um módulo fotovoltaico. A produção de electricidade através de energia solar pode beneficiar várias aplicações:

  • Iluminação pública e semaforização.
  • Produção de água potável através da dessalinização.
  • Bomba solar de água de irrigação.
  • Aplicação de painéis solares em residências, indústrias e shoppings para redução de custos de energia.
  • Aplicações de eficiência energética.


A região sul do país, Namibe, Huíla, Huambo, Cunene e Cuando Cubango são as mais promissoras para criação de projectos solares. De acordo com relatórios divulgados pelo MENEA, eis as centrais híbridas (PV + DIESEL) contruídas nos últimos 3 anos, sendo que são projectados maioritariamente com 2 MW para PV e 3 MW para geradores, totalizando 5 MW

Data Localização Capacidade Investimento (USD)
Novembro 2019 Bocoio, Benguela 5 MW 19.606.063
Agosto 2019 Zanza Pomgo, Uíge 5 MW 200.000.000
Fevereiro 2019 Belize, Cabinda 2.5 MW 9.804.000
Fevereiro 2019 Cacongo, Cabinda 2.5 MW 9.804.000
Novembro 2018 Tombwa, Namibe 5 MW Não divulgado
Novembro 2018 Xangongo, Cunene 5 MW 19.600.000
Total 30 MW 258.814.064

Projectos implementados nos últimos três anos.


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Desafios da inserção de energias limpas no país

O maior desafio das energias renováveis está no custo da instalação e o retorno lento de investimento. Em Angola, o desafio é ainda maior porque não existe legislação transparente para vender a energia à ENDE, ou seja, uma planta pode produzir muito mais que do que é consumido, o excesso é transportado de volta para sub-estação (reverse power) e por sua vez o governo devia pagar por cada watt exportado.

Em curto período o sistema está sujeito a flutuações rápidas e dependente a mudanças climáticas, sendo aconselhável não ultrapassar 20% da potência instalada em cada planta sem o uso de armazenamento de energia (baterias) ou de um sistema de backup (geradores). Baterias são dispendiosas, por isso a maioria dos projectos ligados a energia solar em Angola são maioritariamente híbridos.


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Apesar de todo esforço feito pelo governo, a transição enérgica em Angola é muito lenta e pessoalmente falando acordos como “Acordo de Paris”, “IPP Energy” e “Power Purchase Agreements” não se refletem devido a falta de investimento e participação directa do sector privado. Alguns factores que impedem o investimento privado estrageiro, nomeadamente:

  1. Falta de uma estrutura legal e institucional clara, favorável e estável.
  2. Limitações à harmonização regional e ao comércio transfronteiriço de eletricidade;
  3. Ineficiência de planejamento, aquisição e regulamentação de energia.
  4. Baixa viabilidade comercial das empresas públicas de energia devido a imposição de margens excessivamente altas;
  5. Falta de tecnologias e práticas de energia limpa e renovável.
  6. Baixa eficiência energética;
  7. Fraca capacidade institucional para a gestão do setor de energia.
  8. Baixa taxa de capital humano especializado para implementação, instalação e manutenção.

 Pode-se afirmar que as barreiras para participação do sector privado internacional são vastas e as metas do Plano de Electrificação para 2025 não serão atingidas enquanto os problemas acima mencionados não forem solucionados para que haja um maior envolvimento das empresas privadas. Uma das estratégias para acelerar a transição energética e participação significativa do sector privado em Angola é a promoção e criação de novos órgãos a concorrer com PRODEL, (Empresa Pública de Produção de Eletricidade), RNT (Empresa Rede Nacional de Transporte de Eletricidade), e ENDE, (Empresa Nacional de Distribuição de Eletricidade) para que o estado deixe de ser árbitro e jogador.

Projeções futuras

A pandemia covid-19 tem assolado a economia do país em todos os sectores, mas segundo a proposta do OGE (Orçamento Geral do Estado) 2020 o sector energético não sofrerá cortes e prevê uma taxa de crescimento de 4% comparando com 2,04% do ano anterior. Actualmente, o país não tem capacidade de importação de electricidade o que gera uma oportunidade para soluções de infraestruturas de transmissão de forma a expandir a capacidade de geração e implementação de projectos off-grid e on-grid com tecnologias de energia renováveis. A nível de projectos, as micro-redes serão interligadas a rede principal com transferência perfeita entre a operação paralela e ilhada, resultando em economia, flexibilidade, confiabilidade, segurança, impacto positivo social e ambiental.

Há necessidade de inserção de medidores eléctricos inteligentes e novas políticas de pagamento para evitar as conexões ilegais mais conhecidas por “puxadas” que consequentemente reduziria o número de clientes não monitorizados que resultam em dividas para a ENDE.

Angola é um país fértil com vasta disponibilidade de geração de energia de biomassa, com um potencial de 3.7 GW na qual pode substituir a geração térmica com benefícios económicos. A região Leste (Moxico, Lunda Norte e Sul) e região Sul (Benguela, Bié, Huambo) são as mais favoráveis  para projectos ligados a biomassa devido aos recursos de silvicultura e agroindústria. Outras energias como a do oceano e a geotérmica ainda não estão na agenda do governo e somente poderão talvez ser projectadas no futuro (sem data prevista) devido a sua complexidade, abundância dos outros recursos renováveis, custos elevados e risco de implementação. energia verde em angola

Uma das energias promissoras nas próximas décadas é a energia eólica. O potencial eólico em Angola varia de 4,5 m/s a 5,20 m/s (consideravelmente baixo para turbinas eólicas) e alguns projectos prioritários divulgados pelo Secretário de Estado Belsa da Costa em setembro do corrente ano 2020.


Localização Capacidade
Kiwaba Nzoji I, Malanje 62 MW
Kiwaba Nzoji II, Malanje) 42 MW
Mussende I Cuanza Sul 36MW
Mussende II Cuanza Sul 44 MW
Gastão Cuanza Norte 30 MW
Caculo Huíla 88MW
Benjamim Benguela 52MW
Nharea Bié 36MW
Calenga Huambo 84MW
Total 552MW

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Em Africa, países como Quénia, Marrocos e Africa do Sul têm aumentado a participação de geração de energias renováveis usando mecanismos de incentivo que poderiam ser implementados no nosso país para acelerar a inserção de fontes limpas, como por exemplo:

  • Subsídios, créditos de investimento e benefícios fiscais.
  • Incentivos à produção (redução de tarifas feed-in e acordos de pagamento).
  • Concessões.
  • Créditos de redução de emissão de gases de efeito estufa (GHG).
  • Portfólio de reserva ou standard renovável.
Considerações

Para electrificar Angola e atingir a agenda de 2030 como se pretende, precisamos gerar energia de forma independente, diversificando as fontes de geração em escalas massivas. Todavia, a implementação de novas políticas para apoiar as energias renováveis, especialmente fotovoltaica, integração de sistemas solares em grande escala nos sistemas existentes e inserção de redes inteligentes (smart grids) são necessárias para electrificação sustentável de Angola

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