Ser sustentável é ter um conjunto de atitudes, ideias, práticas económicas, sociais e ecológicas, viáveis e correctas (EcoAngola, 2020); e está relacionada com o desenvolvimento sustentável, que é a capacidade de satisfazer as necessidades actuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras.
Este artigo tem como objectivo alertar a sociedade e as instituições, sobre a necessidade de alterar os hábitos de compra e consumo dos angolanos, de modo a reduzir os impactos ambientais negativos e ter um ambiente mais limpo e sadio.
Porquê comprar e consumir de forma consciente e sustentável? E como fazê-lo?
A forma irresponsável como a população compra e consome tem contribuído para muitos problemas ambientais, como a poluição, redução dos recursos naturais e a perda da biodiversidade. Isto representa um problema não só ambiental mas também social, pois a qualidade de vida das pessoas depende da capacidade do homem de viver dentro dos limites dos recursos disponíveis.
Ao adoptarmos o consumo consciente, contribuímos para o uso racional dos recursos naturais, diminuição da poluição, redução do desperdício e outros impactos ambientais negativos. Além disso, são incentivadas práticas de preservação ambiental como a reciclagem, o tratamento de resíduos e águas residuais, a diminuição na emissão de gases poluentes, entre outros.
A primeira coisa a fazer para se comprar e consumir de forma consciente é combater o consumismo, adquirindo somente o necessário. É fundamental saber o ciclo de produção dos produtos desejados, para avaliarmos a pegada ecológica dos mesmos (ter em conta os recursos utilizados nas etapas de produção e a poluição gerada, por exemplo). Existem inclusive selos e/ou rótulos ambientais em diversos produtos, que indicam se estes se encontram ou não dentro dos parâmetros ambientais pretendidos e como podemos dar uma finalidade mais adequada.
Por outro lado, adquirir produtos locais é igualmente importante, porque garante a utilização dos recursos naturais e energia de forma mais eficiente, reduzindo as emissões poluentes (como a causada pelos transportes, durante a importação e exportação) e outros impactos ambientais (Verde Ghaia, 2019).
Quanto menor for o tempo de transporte e distribuição de determinado produto, ou a distância entre a sua origem e o local de consumo, maior será a qualidade do mesmo e haverá menor impacto ambiental. Importa referir que a compra de produtos nacionais representa poupança para o consumidor final e ao mesmo
tempo promove hábitos saudáveis, reduzindo a pegada ecológica de cada indivíduo, e promove a economia local (Alcouce, 2020).
É necessário que se faça uma reflexão durante a compra e consumo de algo:
- Será que preciso mesmo de comprar este produto?
- Foi produzido por quem e como?
- Que tipo de resíduo o produto gera?
- Em que quantidades?
- O resíduo pode ser reaproveitado?
- O resíduo pode ser reciclado e se sim, por quem?
- Onde irá parar o resíduo se não for descartado de forma correcta? Que danos pode o resíduo causar ao ambiente?
Perfil do consumidor consciente
O consumidor consciente é aquele que ao escolher o que comprar, além de questões como preço e marca, leva também em conta o ambiente, a saúde dos seres vivos e as relações justas de trabalho. Busca o equilíbrio entre a satisfação pessoal e a sustentabilidade, maximizando as consequências positivas e minimizando as negativas.
O consumo consciente pode ser praticado no dia-a-dia, por gestos simples que levem em conta os impactos da compra, uso e descarte de produtos, ou a escolha das empresas das quais comprar, em função de seu compromisso com o desenvolvimento sócio-ambiental.
Compra sustentável nas empresas
Uma organização sustentável é aquela que busca o lucro, sem prejudicar o ambiente e a comunidade, e em cada um dos processos internos, as questões ambientais são respeitadas e cumpridas, e não somente escritas no papel. Geralmente é uma empresa comprometida em comprar de forma sustentável, para atender às suas necessidades em termos de bens e serviços, beneficiando não só a si mesma, mas também a sociedade, minimizando os impactos negativos que todos podemos causar. Isto é conseguido ao assegurar que as condições de trabalho dos funcionários e dos seus fornecedores sejam decentes, os produtos ou serviços adquiridos sejam sustentáveis, considerando questões como a desigualdade e a pobreza.
A compra sustentável não pode ser utilizada apenas como uma “bandeira” ou “marketing positivo”, mas representa ganhos reais para as organizações, proporcionando opções mais inteligentes tanto do ponto de vista financeiro (atracção de investimentos e facilidade de novas parcerias e contractos) como de impactos ambientais e sociais. Garante melhor reputação, vantagem competitiva, aumento da produtividade, optimização dos custos e estímulo à inovação do mercado.
A Norma Internacional ISO 20400:2017 sobre compras sustentáveis, estabelece um conjunto de directrizes, que podem ser adoptadas por qualquer organização que queira ser sustentável, aplicando-se a todas as decisões de compra (material de escritório, energia, materiais de construção e muito mais), orientando as empresas a serem conscientes, para a melhor decisão na hora de seleccionar o que comprar, de quem comprar e como os bens e serviços adquiridos serão usados internamente ou pelos seus clientes (embalagens sobretudo).
Pesquisas sobre o consumo consciente
Foi realizada em 2018 uma pesquisa sobre o assunto no Brasil, pelo Instituto Akatu – organização não governamental, que trabalha na sensibilização e mobilização da sociedade, para o consumo consciente. A pesquisa está na 5.ª edição e o objectivo é avaliar a consciência e o comportamento do consumidor rumo ao consumo consciente, a sua percepção e expectativa quanto às práticas de sustentabilidade e responsabilidade social das empresas. Foram entrevistadas 1.090 pessoas, com mais de 16 anos, de todas as classes sociais e de 12 capitais.
A partir de um Teste do Consumo Consciente (TCC), que considerou 13 comportamentos dos consumidores, os pesquisadores analisaram o quanto algumas atitudes fazem parte da rotina dos entrevistados. Categorizando os consumidores em quatro (4) perfis: “indiferentes” – aqueles que aderiram até 4 comportamentos, “iniciantes” – de 5 a 7, “engajados – de 8 a 10” e “conscientes” – de 11 a 13.
Um dos principais resultados foi o crescimento do segmento de consumidores “iniciantes”, que correspondia a 32% em 2012 e em 2018 aumentou para 38% o que mostra que os consumidores indiferentes podem melhorar e se tornar iniciantes em sua consciência de consumo.
A pesquisa aponta que são 76% os menos conscientes (“indiferentes” e “iniciantes”) em relação ao consumo e entre os mais conscientes estão os idosos e as mulheres.
O interessante desta pesquisa é que ela fornece dados que podem ajudar entidades públicas e privadas, a direccionarem melhor as suas acções de sensibilização e promover uma mudança mais realista.
Situação em Angola
O planeamento de compras para evitar exageros, deve contemplar atitudes conscientes que contribuam para um mundo melhor e sustentável (PKT Desenvolvimento Empresarial, 2019). Algumas empresas como a Refriango implementaram o SGA (sistema de gestão ambiental), com o objectivo de melhorar a performance ambiental e contribuir para a melhoria do meio envolvente (Refriango, 2020). Ela assume a ambição na prevenção e controlo de impactos ambientais, e o respeito na aplicação da regulamentação aplicável a nível nacional.
O grupo Castel Angola, da qual faz parte a Coca-Cola trabalha com ética e obedecendo a legislação. Reformulou a sua Política de Sustentabilidade para apoiar de forma mais activa, acções que beneficiem o seu entorno (Grupo Castel Angola, 2020), particularmente porque a Coca Cola é considerada uma das marcas que maior pegada ecológica tem a nível global.
Os angolanos mudaram o seu modo de consumo por causa da pandemia COVID-19, pois as importações reduziram e as pessoas viram-se obrigadas a comprar de fornecedores locais, particularmente bens alimentares e produtos de higiene.
Profissões que perderam o seu espaço no mercado, voltaram a ser valorizadas, como é o caso dos costureiros, pois a subida dos preços, tem reduzido o poder de compra da população, que ao invés de comprar um item novo, opta pelo concerto. Os consumidores que têm em suas casas contadores de energia e água, também são geralmente mais conscientes em relação ao uso desses recursos.
Atitudes e acções ao nosso alcance
Práticas sustentáveis e conscientes devem fazer parte da nossa vida É extremamente importante fazermos reflexões sobre o nosso consumo, especialmente se percebermos o porquê de termos de tomar acções que muitas vezes contrariam a nossa própria cultura, hábitos e tradições. É necessário que cuidemos do planeta em que vivemos e pequenas atitudes podem fazer a diferença, tais como:
- Reduzir o nosso consumo;
- Reutilizar e reciclar os nossos resíduos;
- Transformar os resíduos orgânicos em adubo;
- Contribuir para a educação ambiental no seio da comunidade, família e amigos;
- Consumir menos energia e água;
- Reduzir o consumo de sacos plásticos (substitua pelos ecobags – feitas em algodão) e do plástico de uso único (palhinhas e loiça descartáveis);
- Utilizar papel reciclável;
- Consumir produtos locais e naturais;
- Não comprar por impulso;
- Comprar móveis de madeira certificada;
- Incentivar a sociedade a adoptar práticas conscientes e a participar de campanhas ambientais;
- Ter sempre em mente os 5Rs (recusar, repensar, reduzir, reutilizar e só no fim reciclar).
Portanto, pode-se afirmar que os angolanos precisam de mudar os seus hábitos de consumo, as empresas devem trabalhar de modo sustentável, para garantir o crescimento económico dos negócios e das comunidades, sem prejudicar o ambiente. O Instituto Nacional de Estatística (INE), o Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (INADEC) e outras organizações públicas e privadas devem unir esforços, no sentido de obter informações sobre o perfil do
consumidor angolano e todos devem ter um papel activo no processo de mudança, para a adopção de melhorias.
O consumo consciente é uma questão de cidadania e pequenas acções praticadas por várias pessoas, geram grandes impactos.
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