ONDJAKI: O CONTADOR DE HISTÓRIAS

EEscritor, poeta, cineasta…com inúmeros reconhecimentos e prémios a nível internacional, Ondjaki significa inspiração, cultura, Angola, sátira e genialidade.

A sua expressão criativa, fala por si.

Agora, com o novo Projecto da Livraria Kiela e da Editora Kacimbo, gostaríamos de perceber quais têm sido os desafios encontrados na implementação de um projecto desta envergadura?

Creio que abrir uma livraria e uma editora em tempos de pandemia foi e está a ser um grande desafio. Mas eu e os meus sócios não queríamos adiar mais. E foi possível. Difícil e possível. Houve grande entusiasmo no início, do público, e depois as coisas esfriam um pouco. Mas temos conseguido, tanto na Kiela como na Editora Kacimbo, manter a qualidade e o interesse do público.

Continuamos na luta, ajudaria que os livros não pagassem impostos ao ser importados, ajudaria muito que o papel pagasse menos imposto e que as gráficas pudessem praticar preços mais baixos. Lá chegaremos, um dia.

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Temos conhecimento que dá destaque a autores africanos, numa iniciativa de louvar em prol da promoção da leitura/cultura em Angola. Qual a adesão do público em geral? Já consegue ter uma percepção a curto-médio prazo?

Teremos mais surpresas ao longo dos anos. Algumas já conseguimos, publicámos um autor moçambicano em co-edição com a Ethale (editora de Moçambique).

Mas ainda este ano teremos a primeira obra traduzida a partir do inglês, de uma autora sul africana. Isto, para mim, é a concretização de um sonho antigo. Ter um autor africano publicado numa editora africana, de novo em co-edição. É só o começo.


O que é necessário fazer-se para termos mudança de mentalidades em relação ao consumo de arte e cultura, a longo-prazo?

Eu não sei de ‘tudo’ o que é preciso fazer, mas creio que o dito ‘consumo de arte’ é causado por factores múltiplos, e alguns deles dependem de propostas nacionais, colectivas, na área da educação e da cultura. Mas até para a educação funcionar bem a criança e o jovem teriam que estar melhor alimentados, melhor cuidados em termos de possibilidades sociais e escolares, etc, etc. Como vê o problema ‘da cultura’ depende de muitas outras áreas. E, se for possível, a mudança de mentalidade de quem governa para que consigamos resultados a ‘longo prazo’. Planificação, ponderação, adequação. Parecem disparates, mas são possibilidades sociológicas e políticas.


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A Livraria Kiela não é apenas uma comum livraria que vende livros. Sabemos que têm uma agenda cultural bastante diversificada, nomeadamente workshops, lançamentos, recitais de poesia, entre tantos outros. Pode falar-nos um pouco mais do Espaço Kandengue?

O espaço kandengue é quando a livraria consegue inventar uma programação interessante para os mais pequenos, sendo que muitas vezes tentamos aproximar também os pais, os avós, etc.

É certo que estamos mais preocupados em cuidar do leitor-criança, que esperamos que venha a ser um adulto-leitor. Mas temos e teremos cada vez mais propostas que promovem o convívio familiar. Isso é uma coisa bela que tem acontecido na livraria Kiela, a família muitas vezes vem junta. Fica bonito mesmo de ver.!

 

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Fomos convidados a estar presentes, no passado dia 15 de Janeiro, numa iniciativa onde Ondjaki desempenha o papel de contador de histórias às crianças que são colocadas como intervenientes activos e não apenas meros ouvintes. Qual o impacto que pretende agregar?

Pretendo ver as crianças felizes e sorridentes perto dos livros. Pretendemos que a livraria seja um espaço de alegria e que as memórias daqueles momentos aproximem a criança de um mundo fantástico, que tem estórias, que tem cores, que tem diálogo, que tem possibilidade de aprender e de encarar o livro como um amigo.

Fora a Livraria Kiela existe já a editora Kacimbo no mercado angolano. Pode falar-nos um pouco mais sobre este complemento e o porquê desta estratégia?

Não é bem uma estratégia, é uma divisão natural, a empresa é a mesma, mas subdivide-se para vender livros ou fazer livros, embora a Editora Kacimbo também os venda. A ideia é publicar os autores angolanos, claro, mas também outros autores do continente, tentando prestar um pouco de atenção aos vizinhos e à ‘região Sul’.

Até chegarmos a um ponto onde teremos prémios literários, festivais literários, oficinas constantes, e resultados de tudo isso: novos autores, novas vozes, novas ficções de uma nova Angola. E isso já começou, felizmente.

Não deixando a curiosidade de lado, gostaríamos de saber qual tem sido o feedback do público da “nova” edição angolana do seu livro “Os da Minha Rua” pelas mãos da editora Kacimbo?

Tem sido boa, embora as pessoas perguntem mais sobre ‘Bom dia, camaradas’ ou ‘Os transparentes’. Mas eu tenho um carinho especial por esse livro de contos (“Os da minha rua”) pois ele faz as crianças rirem e gostarem de ler. Essas duas coisas aliadas podem ser muito bonitas.



Pretende paralelamente relançar outras obras da sua autoria com a Kacimbo?

Aos poucos é natural que os meus livros sejam reeditados pela Kacimbo, mas dada a nossa baixa capacidade de produção, não posso de repente publicar 15 livros meus.

Projectos para 2022?

A criação de um prémio literário infanto juvenil, a publicação de um livro meu, e a publicação de muitos livros de outros autores. Começamos o ano a publicar um livro de Manuel Rui (poesia) e ainda este ano devo publicar um livro inédito de uma grande autora angolana. E teremos também autores em estreia.

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