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Tudo remonta à Revolução Industrial do século XVIII.

Pela primeira vez, todo e qualquer produto podia ser produzido em massa por grandes máquinas com a ajuda de mão-de-obra que, devido a dificuldades financeiras, fome e desespero, aceitava qualquer tipo de trabalho para sobreviver. Ou seja, maior eficiência, maior quantidade produzida e a menor custo, obtendo, as empresas, lucro garantido.

Inicia-se o atual capitalismo moderno. O PIB sobe, os ricos ficam mais poderosos e utilizam os pobres para alcançar as suas ambições. Fábricas e indústrias cresceram e proliferaram e para elas trabalharam crianças, homens e mulheres, alguns até mais de 16 horas por dia, sem descanso. Com a evolução dos tempos, foram criados sindicatos nos países mais liberais e, com eles, movimentos de defesa dos trabalhadores, classe desprotegida, e, por consequência, contra os donos das fábricas.

© Nunkui

Séculos passaram e as mentalidades evoluíram.  O ser humano, com todas as suas diferenças, passou a ser mais protegido, no sentido de ter havido um grande desenvolvimento a favor da igualdade entre géneros, idades, raça, religião, sexualidade e muitas outras distinções.

A indústria acabou progressivamente com as horas excessivas de trabalho, a utilização de crianças na mão-de-obra e os salários baixíssimos… Isto ainda, infelizmente, apenas nos países Ocidentais e mais liberais.

Países como a Indonésia, a Índia, a China, a Tailândia, o Camboja, o Bangladesh, entre muitos outros, nunca deixaram essa era. Ignoradas e desesperadas, milhares de pessoas sofrem ainda com maus tratos, higiene precária, baixos salários, trabalho duro e não recompensado, apenas para poderem comer e/ou dar de comer às suas famílias.

© Fancycrave

Estes países não lhe dizem nada? Anda com eles todos os dias. É tudo esquecido, ignorado e desprezado para que empresas de produção em massa como o “pronto-a-vestir” tenha as roupas nas lojas a baixo preço.

Estava mais do que na hora de estas mentalidades mudarem e factos que nos passavam ao lado, escondidos pelos media, viessem à tona. Verdades chocaram a sociedade e permitiram que mentes se abrissem para a realidade, vozes fossem ouvidas e movimentos, empresas, fundações tomassem a iniciativa de pôr mãos à obra para terminar de vez com estas injustiças.

Muitas são as marcas que escondem ou tentam esconder os escândalos da origem das suas fabricações, mas já várias foram divulgadas e descobertas. Estas marcas, muitas delas reconhecidas e seguidas mundialmente, veem afetados a sua imagem e prestígio, que é tão importante para os seus consumidores, obrigando-as a alterar todo o seu planeamento de marketing e comunicação.

© Raul Cacho Oses

No caso da Nike, por exemplo, todo o seu material desportivo resulta da subcontratação de mão-de-obra no Taiwan, na China, na Indonésia e no Vietname, sendo apenas o design e o marketing realizados na sua sede nos Estados Unidos da América.

“Os escândalos pela descoberta da exploração do trabalho infantil no terceiro mundo desiludiram a opinião pública e a imagem que a maioria das pessoas tinha da marca, encheram páginas de jornais e revistas, acusando-a de hipocrisia”, afirma o artigo do Jornal Público que relata a história da Nike.

H&M e Next admitiram ter descoberto que mão-de-obra infantil (crianças refugiadas vindas da Síria) era utilizada na produção dos seus artigos num dos seus fornecedores na Turquia.

© Elcarito

Um dos momentos mais marcantes na história da exploração fabril foi o caso de Rana Plaza, no dia 24 de Abril de 2013. Este edifício no Bangladesh colapsa e nele 1138 pessoas morreram e 2500 ficaram feridas, na sua maioria mulheres (segundo o site Fashion Revolution). Este acontecimento tornou-se emblemático e razão da criação de diversas fundações, por ter sido considerado o 4º maior desastre na indústria de produção. Porquê? Porque este edifício produzia para marcas e empresas mundialmente conhecidas como a Primark e a Benetton. A qualidade do edifício e os sistemas de segurança eram mínimos ou não existentes, o que fez com que o mesmo “caísse de podre”.

“Na ausência de padrões básicos de saúde e segurança no trabalho, estes trabalhadores tornaram-se vítimas de violações sistemáticas dos direitos humanos, sofrendo enquanto outros enriquecem para fazer roupas da moda para consumidores sem rosto”, relata uma fonte de Open Democracy.

©THE New York TIMES

Desde esse dia, e em honra das vítimas, a Fashion Revolution, empresa sem fins lucrativos criada em 2013, zela para um futuro com maior transparência por parte das empresas no mundo da moda. Está presente em mais de 100 países em todo o mundo e pede a todos que questionem de onde vêm as suas roupas, para que não deixemos que as vidas daquelas pessoas sejam esquecidas, mas que se tornem na razão para uma mudança.

A Fashion Revolution tem como objetivo mudar o mundo, dando a conhecer os factos escandalosos e as más condições em que vivem as pessoas que criam roupas para estas marcas. Más condições que passam por estes trabalhadores não terem o básico, trabalharem em condições desfavoráveis e impensáveis e ainda serem abusadas, tanto fisicamente, como verbalmente. Estas grandes empresas estão apenas focadas em criar lucro a todo o custo, sem consciência dos danos que provocam.

© fashionrevolution.org

O Business & Human Rights Resource Centre tem sido um pilar nesta guerra. Está representado em 18 países, tais como a Austrália, o Brasil, a China e a Colômbia. Tem como objetivo fazer a diferença na vida das pessoas que foram vítimas e das que são mais vulneráveis ao abuso. Procura apoiar e dar força a movimentos a favor dos direitos humanos sem estar associado a governos, religiões, políticos ou qualquer interesse económico. O Business & Human Rights Resource Centre propõe-se a representar ambas as partes em debates, tanto do lado das empresas, como do das vítimas, com o objetivo de chegar a um acordo. Chamam à atenção da sociedade casos que passam despercebidos e vítimas esquecidas, publicando e divulgando estas preciosas informações para o mundo inteiro.

Vivemos num mundo onde os consumidores são movidos pelas crenças que têm das marcas, destacando-se mercados como o norte-americano (59%), o japonês (60%), o britânico (57%) e o alemão (54%). Este novo tipo de  consumidor acredita que as marcas são uma força poderosa para a mudança social, mais ainda que os governos.

© fashionrevolution.org

“O estudo apurou, ainda, que os consumidores têm a mesma probabilidade de expressar a intenção de compra depois de verem uma comunicação baseada em valores (43%) como depois de uma mensagem centrada no produto (44%)”, diz uma notícia da revista Grande Consumo.

É importante que, tendo em conta estas realidades, as empresas estejam sempre bem com os seus consumidores e que sejam coerentes e transparentes com os seus valores e imagem que querem transparecer. Nós, como consumidores, devemos questionar e querer saber o que acontece por “trás” do que compramos. Vivemos num mundo em que temos todo o tipo de informação à distância de um click e não podemos ignorar a realidade, pois todos temos o poder de fazer a diferença.

© Nações Unidas

© Debashis Biswas

Bibliografia:

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