APÓS UMA PROPOSTA DE COLEÇÃO NA MODA LX (NO DIA 9 DE MARÇO 2019), A PARTIR DE PREMISSAS OPOSTAS – A LIBERDADE DE VESTIR, A LIBERDADE DE CRIAR E A LIBERDADE DE REINVENTAR TRADIÇÕES – A DESIGNER CELEBRA A EXPERIMENTAÇÃO, O ERRO E O QUESTIONAMENTO DAS REGRAS PRÉ-ESTABELECIDAS.
Nasceu em Lisboa. Viveu em Londres durante seis anos, onde se licenciou em Design Têxtil pela prestigiada Central Saint Martins, e trabalhou para Marques’Almeida e Peter Pilotto.
Em 2017, torna-se designer da Balmain, sob a direção criativa de Oliver Rousteing, em Paris, e lança a sua marca na ModaLisboa, onde apresenta a primeira coleção em nome próprio para o Verão de 2018. Este ano, repete o feito, marcando a sua assinatura, uma vez mais, na emblemática fashion week portuguesa.
Em entrevista, confirmamos o nosso real fascínio por esta Mulher que de menina tem apenas o dom puro da criatividade espelhada nos olhos…
I.A – COMO SURGIU A PAIXÃO PELO UNIVERSO DA MODA?
C.E – Surgiu de forma muito natural…Desde de muito pequena que tinha vários cadernos onde desenhava looks para várias personagens que criava. No entanto, a minha paixão verdadeira é pelos têxteis, até porque foi esse o curso que tirei. E foi através dessa paixão que comecei a explorar o design de moda.
I.A – O FACTO DE TER VIVIDO EM LONDRES E TER-SE FORMADO NA CENTRAL SAINT MARTINS, LICENCIANDO-SE EM DESIGN TÊXTIL FORAM ALICERCES FUNDAMENTAIS PARA PERCEBER EXACTAMENTE O QUE QUERIA?
C.E – Foi muito importante, tanto a nível profissional como pessoal. Cresci muito, aprendi com os melhores, nem sempre foi fácil, mas valeu muito a pena. Saint Martins é muito mais do que uma universidade, é um local de constante partilha e intercâmbio de ideias e muita criatividade, mas ao mesmo tempo, ensina-nos também que errar é humano e que só quem tenta e é persistente, consegue chegar a algum lugar.
“Cresci muito, aprendi com os melhores. Nem sempre foi fácil, mas valeu muito a pena. Saint Martins é muito mais do que uma universidade, é um local de constante partilha e intercâmbio de ideias e muita criatividade, mas ao mesmo tempo, ensina-nos também que errar é humano e que só quem tenta e é persistente, consegue chegar a algum lugar. “
© Constança Entrudo
I.A – ENQUANTO DESIGNER DE MODA DÁ VALOR A TODO O TIPO DE FUSÕES E COLABORAÇÕES ENTRE ARTISTAS E DESIGNERS. FORMAS ESSAS IMPRESCINDÍVEIS PARA EXPLORAR O DESCONHECIDO E ESTIMULAR A CRIATIVDADE. DE QUE MODO TER TRABALHADO COM MARQUES ‘ALMEIDA E PETER PILOTTO A INFLUENCIARAM ENQUANTO DESIGNER DE MODA E ARTISTA?
C.E – Muito…Experiências bem diferentes, mas que me fizeram perceber como funciona uma marca, a indústria da moda e todo o processo que envolve preparar e fazer uma coleção.
I.A – NESSA ALTURA, PERCEBEU LOGO QUAL O CAMINHO QUE PRETENDIA SEGUIR?
C.E – Sim. O facto de ter estagiado e mais tarde trabalhado com vários designers ajudou-me também a perceber isso.
I.A – QUEM É CONSTANÇA ENTRUDO?
C.E – É jovem, em constante aprendizagem e à procura de algo novo, tem um look aparentemente messy mas sabe o que quer.
I.A – QUAIS AS SUAS INFLUÊNCIAS E REFERÊNCIAS?
C.E – Diversas. Durante muito tempo as minhas maiores referências eram artistas contemporâneos. Ultimamente tenho desenvolvido um interesse pelo cinema . O Bertulocci tem sido uma grande referência e a nível de literatura o ítalo Calvino.
“Durante muito tempo as minhas maiores referências eram artistas contemporâneos. Ultimamente tenho desenvolvido um interesse pelo cinema. O Bertulocci tem sido uma grande referência e a nível de literatura o ítalo Calvino. “
© Constança Entrudo
I.A – NUM MERCADO DE FAST FASHION EM QUE É NECESSÁRIO PRODUZIR-SE VÁRIAS COLEÇÕES AO ANO PARA AS MARCAS SOBREVIVEREM, COMO É QUE UM DESIGNER EM INÍCIO DE CARREIRA, CONSEGUE ENCONTRAR O EQUILÍBRIO CRIATIVO VERSUS COMERCIAL?
C.E – Duvido que haja uma fórmula porque todos temos processos criativos e de trabalho muito diferentes, mas no meu caso, é fruto de um longo período de pesquisa em bibliotecas, arquivos etc.
I.A – CASOS COMO A CHOCANTE MORTE DO DESIGNER INGLÊS ALEXANDER MCQUEEN ALERTARAM O QUANTO A PRESSÃO DA INDÚSTRIA PODE AFETAR UM ARTISTA, AO PONTO DO COLAPSO. NA SUA OPINIÃO, O QUE MUDOU (NESSE SENTIDO) ATÉ AOS DIAS DE HOJE?
C.E – O McQueen foi um génio. Ele mudaria a indústria de qualquer das maneiras pela sua criatividade e inovação. Apesar de ser uma indústria muito intensa em que estamos constantemente sujeitos a muita pressão, eu acredito que nesses casos trata-se da cabeça e do nosso estado psicológico a falar mais alto, e isso pode acontecer em qualquer indústria, em qualquer lugar.
I.A – O QUE SIGNIFICAM PARA SI CONCEITOS COMO ETHICAL FASHION E SUSTENTABILIDADE NA MODA?
C.E – São conceitos muito importantes e apesar de muitas vezes ser difícil, todos deveríamos tentar aderir e contribuir, à nossa maneira e escala, para que a indústria melhore.
© Constança Entrudo
I.A – FALE-NOS UM POUCO DA SUA PRIMEIRA COLEÇÃO (PARA O VERÃO DE 2018) E ESTREIA NA MODA LX? O QUE SENTIU?
C.E – Correu muito bem, senti me feliz e realizada por sentir que ao fim de vários anos no estrangeiro, reconheceram-me e ao meu trabalho, no meu país.
I.A – QUAL FOI O FEEDBACK DO PÚBLICO E IMPRENSA?
C.E – Foi muito positivo, até eu própria fiquei de certo modo, surpreendida.
I.A – QUAL A SUA POSIÇÃO PERANTE AS MARCAS DE BELEZA QUE FAZEM TESTES EM ANIMAIS? TEM ESTE TIPO DE PREOCUPAÇÕES?
C.E – Tenho. E com o tempo tenho tido mais e mais. Confesso que não compro nem muita maquilhagem nem cremes, normalmente é algo que me oferecem.
I.A – PARA 2019, O QUE PODEMOS ESPERAR DA MARCA CONSTANÇA ENTRUDO?
C.E – Continuar fiel a si mesma.
I.A – COMO DEFINE A SUA MARCA?
C.E – Sem idade, messy chic, livre, “assimétrica”.
I.A . QUAIS OS OBJETIVOS A CURTO, MÉDIO PRAZO?
C.E – Crescer de forma sustentável, e continuar a trabalhar no processo de internacionalização da marca.
© Constança Entrudo
I.A – NÃO PODEMOS DEIXAR DE QUERER SABER COMO FOI TRABALHAR NA MAISON BALMAIN COM OLIVIER ROUSTEING, EM PARIS?
C.E – Foi uma óptima experiência. Muitas horas de trabalho, muito intenso, mas aprendi imenso com ele e com toda a equipa da Balmain. O Olivier é um director criativo muito presente e próximo da sua equipa, e isso faz com que todos consigamos sentir que o nosso contributo para as colecções foi importante.
I.A – PARIS OU LONDRES? O QUE “ABSORVEU” MAIS DE CADA CIDADE?
C.E – Londres. De Paris “absorvi “ técnica, o rigor, a elegância e lá aprendi a tentar procurar a “perfeição” nas coisas. Londres, foi a minha escola, onde desenvolvi o meu “eu” e me conheci melhor, onde desenvolvi o meu estilo próprio, onde “abri a mente”. Sem dúvida a minha cidade preferida e para onde tenciono voltar em breve.
“Londres. De Paris “absorvi “ técnica, o rigor, a elegância e lá aprendi a tentar procurar a “perfeição” nas coisas. Londres, foi a minha escola, onde desenvolvi o meu “eu” e me conheci melhor, onde desenvolvi o meu estilo próprio, onde “abri a mente”.
© Constança Entrudo
I.A – PERCEBEMOS QUE A NÍVEL ARTÍSTICO DÁ BASTANTE VALOR A COLABORAÇÕES COM OUTROS DESIGNERS E ARTISTAS. QUAL O DESIGNER PORTUGUÊS QUE GOSTAVA DE TRABALHAR? E INTERNACIONAL?
C.E – Nike ou Adidas. Em Portugal, o David Ferreira, pois temos estilos muito diferentes mas ambos criativos.
I.A – CONSELHO PARA QUEM ESTÁ A COMEÇAR…
C.E – “Nunca desistir”. Assumir que errar é humano e parte do processo e do progresso. Ser persistente e ter a certeza do que queremos.
MÚSICA – “I will always Love you”, Whitney Houston / Canto de Ossanha, Badwell Power.
COMIDA – Pato à Pequim.
ÍCONE – Grace Jones.
VIAGEM – Moçambique.
ESTILO DE VIDA – Muito cosmopolita.
CAUSA SOCIAL – Promoção da inclusão social.
PREOCUPAÇÃO AMBIENTAL – Reciclar os tecidos / materiais usados no meu trabalho. Produzir menos lixo no dia-a-dia.
FRASE DE INSPIRAÇÃO – “Sempre chegamos ao sítio onde nos esperam.”
Sempre chegamos ao sítio onde nos esperam.
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