“Beleza, o quanto obrigas?” BEAUTY ISSUE

Beleza o quanto obrigas

Apesar da ala de Hollywood ditar os cânones perfeitos da beleza dita “perfeita”, e as celebridades e influencers, não terem “mãos a medir” para protelarem aos “quatro ventos” – com filtros mágicos, que a “perfeição” está “à mão de semear” o certo é que, ainda, existe um novo nicho de mercado, que está a dar cartas na indústria da moda e não só, com uma beleza mais madura, sábia, e “sem filtros”.

Aleluia!

Beleza o quanto obrigas

© @baiga.mag

© ted

Sou a primeira a admitir que sempre vivi rodeada de moda, beleza e de uma sociedade que profetiza que ser jovem, magra e “bela” é o ingrediente perfeito para o sucesso, a todos os níveis. No entanto, sem exageros, nem efeitos especiais, a “nova beleza”, chega agora mais real do que nunca com “obras-primas” vindas de uma idade de ouro, com corpos ditos reais – sem género definido – e verdadeiramente, inclusivos. Idade essa que está bem acima dos 50 anos, renovada, sábia e com sede de viver. Não recordar! Viver o presente, o aqui e o agora.



Nomes como Joni Mitchell – que foi a imagem da campanha de Saint Laurent, no Verão de 2015; Catherine Deneuve, escolhida para a campanha Primavera/Verão 2014 de Jacobs, para a Louis Vuitton; Carmen Dell’Orefice, que com mais de 80 anos, ainda é modelo e está na profissão há 70, e mais recentemente, Diana Ross – para a Yves Saint Laurent, agora, em 2024 São exemplos de ovação que representam que, apesar de tudo, a idade é apenas um número.

Marcas como a Fenty Puma, Dove, MAC, entre tantas outras, já confirmam que os ventos vêm para mudar, e protelam nas suas campanhas publicitárias, uma beleza mais diversa, real e transversal, onde o público em geral se identifica mais e sente-se acompanhado.

Actualmente, o número de velas que sopramos torna-se insignificante e a indústria da moda apoia e aplaude de perto. Marc Jacobs corrobora esta tese, ao escolher Jessica Lange (com 65 anos) para imagem da sua linha de beleza, no passado; já para não citar a divertida Dolce & Gabbana que voltou a confirmar que a tradição já não é o que era, incluindo idosas na sua campanha. Quanto a Joan Didion, acrescentou que a maison Celine também era adepta desta tendência e Vivienne Westwood assinou por baixo.

Se no passado era uma premonição, agora torna-se uma confirmação. Os anos de ouro das mulheres mais maduras, com belezas reais, chegam à arena da moda, com toda a pompa e circunstância exigidas, para celebrar uma nova era. A “escravidão” da juventude passa agora a ter os dias contados, e do imediatismo da “beleza” com cirurgias plásticas, que muitas vezes têm o seu lado “sombrio” pouco falado, de maus resultados.

Beleza o quanto obrigas

© @baiga.mag

A obsessão pela beleza “perfeita” e idade nunca deixará de existir, no entanto, o que muda é a relação que temos com nós próprias. Apesar do marketing da cosmética ser deveras agressivo, com os melhores anti-rugas, cremes anti-estrias e celulíticos, botox, ácidos hialurónicos e afins, e as inúmeras campanhas publicitárias a inundarem-nos com uma beleza jovem e imaculada, este novo nicho contraria todas as expectativas e permanece imutável.

Nos dias que correm, a expressão “velhos são os trapos” é enfatizada com liberdade e poder. Quem não se recorda do filme português Os Gatos Não Têm Vertigens, de António Pedro Vasconcelos (2014), em que a personagem de João Jesus (Jó), um rapaz desencantado com a vida, se vê resgatado pelo afecto de Maria do Céu Guerra (Rosa), uma mulher frágil com 73 anos?

Nada como citar um diálogo para se dissiparem todas as dúvidas a respeito deste tema. O momento em que a personagem Rosa, afirma: “Eu sou uma velha!” e Jó, responde: “Não és uma velha! És especial, és vintage…”, amolece-me o coração e faz-me acreditar num mundo melhor e bem mais “cor-de-rosa”, onde o ser prevalece o parecer.

O imperialismo da juventude está revestido de uma aura descartável e o lugar da beleza madura, é sinónimo de diferenciação e luxo. Assim o ditam as marcas mais conceituadas que evidenciam a experiência, a vida real e a essência.

Aqui, o estilo transcende a idade e permanece eterno. Posso confessar que consigo identificar-me com estas mulheres reais e vividas e pensar que um dia serei como elas… Com rugas, um passado de memórias e toda uma vida para contar.

“Prefiro ser uma rosa velha que uma rosa de plástico”

Diane von Fürstenberg

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