O que permanece quando desenterramos a memória?
Entre fragmentos de identidade, rituais de passagem e espiritualidades africanas, a artista angolana Anita Sambanje apresentou no passado dia 10 de Dezembro, no Camões, Centro Cultural Português, a exposição UNEARTHED Travessias Fragmentárias, uma experiência artística imersiva que propõe ao público uma travessia sensível entre vida, morte e regeneração.
© Mello Silva
Há exposições que se observam à distância e outras que exigem entrega. UNEARTHED Travessias Fragmentárias pertence à segunda categoria. Com curadoria de Luamba Muinga, a mostra reúne obras desenvolvidas desde 2022, incluindo produções inéditas e revela uma prática artística profundamente enraizada na escuta do corpo, da terra e do espírito.
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Trabalhando com fotografia, performance, colagem, instalação e vídeo, Anita Sambanje constrói um território visual onde o íntimo se cruza com o ancestral.
As obras não oferecem respostas fechadas: lançam perguntas sobre quem somos, de onde viemos e que partes de nós permanecem soterradas pelas narrativas dominantes. O fragmento, aqui, não é ausência, é método, linguagem e potência.
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A exposição propõe uma leitura expandida da identidade, entendida como um processo em constante transformação. Inspirada nas tradições orais africanas e nas espiritualidades que atravessam o quotidiano angolano, Sambanje investiga o elo delicado entre vida e morte, tratando-os não como opostos, mas como estados contínuos de existência e renovação.
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Artista multimédia a viver e trabalhar em Angola, Anita Sambanje desenvolve uma prática que emerge do sonho, da intuição e da relação profunda com o mundo natural. Para a artista, o humano não se separa do espiritual nem do ambiente que o rodeia, pelo contrário, tudo coexiste num mesmo campo de forças.
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Essa visão traduz-se numa linguagem visual sensível, onde os materiais parecem carregar memória própria e os gestos artísticos assumem caráter ritual.
A curadoria de Luamba Muinga, curador, pesquisador cultural e escritor, reforça o caráter reflexivo da exposição.
Conhecido pelo seu trabalho crítico no campo da arte contemporânea, Muinga propõe uma leitura que respeita a fragmentação como estrutura narrativa, permitindo que cada obra dialogue livremente com o espaço, o público e as restantes peças da mostra.
UNEARTHED Travessias Fragmentárias afirma-se, assim, como mais do que uma exposição: é um exercício de escavação simbólica e uma convocação ao olhar atento.
Um convite para atravessar camadas de tempo, memória e espiritualidade, num percurso onde o visível é apenas o início.
A exposição vai estar disponível até o dia 9 de Janeiro de 2026.













